A criança pensa: "Acabo de perder a coisa mais importante da minha
vida: aquele aconchego e o alimento com que eu me sentia melhor. Devo ter feito
alguma coisa ruim. Devo ser uma pessoa horrível."
Vinte anos depois, nós dizemos: "Porquê você bebe tanto?"
Aos 2 anos:
Nós dizemos: "Você não pode mais dormir na nossa cama. Você não
vai ficar sozinho. Veja, o ursinho fará companhia para você!"
Nós pensamos: "A vovó acha que não está certo você dormir na nossa
cama. Eu não tenho certeza, mas é mais importante para nós agradá-la do que agradar
você. De qualquer modo, o ursinho deixará você feliz."
A criança pensa: "Não é justo! Eles se aconchegam com uma pessoa
de verdade. Eles não me conhecem direito. Eles não se importam com meus sentimentos.
Bom, pelo menos eles me deram esse ursinho."
Vinte anos depois, nós dizemos: "Eu sei que você está chateada
porque o João terminou com você, mas isso não é motivo para você se encher de dívidas
com o cartão de crédito. Será que tudo isso que você compra vai fazer você se sentir
melhor por ter sido abandonada? Quando foi que você se tornou tão materialista?"
Aos 4 anos:
Nós dizemos: "Você já sabe que não devia bater em seu irmão! Vou
lhe dar uma surra que jamais esquecerá!"
Nós pensamos: "Deve haver outro modo de resolver isso, mas era
assim que meu pai fazia, então deve estar certo"
A criança pensa: "Eu estava tão bravo com meu irmão que bati nele.
Meu pai ficou tão bravo de eu bater nele, que está batendo em mim. Acho que adulto
pode bater, mas criança não. O quê eu posso fazer quando ficar bravo novamente?
Bom, pelo menos vai chegar o dia em que eu também serei adulto"
Vinte anos depois, nós dizemos: "Briga de bar? Uma pessoa adulta
não agride os outros só porquê está brava! Com quem você aprendeu a apelar para
a violência?"
Aos 6 anos:
Nós dizemos: "Bom, hoje é um grande dia para você. Não tenha medo,
apenas faça tudo o que a professora mandar."
Nós pensamos: "Por favor não me faça ficar com vergonha de seu
comportamento na escola!"
A criança pensa: "Mas estou com medo! Não estou preparada para
passar tantas horas longe deles! Eles devem estar cansados de mim. Talvez se eu
fizer tudo o que a professora mandar, eles gostem mais de mim e me deixem ficar
em casa."
Vinte anos depois, nós dizemos: "O quê? Seus amigos a convenceram
a experimentar drogas? Você não tem opinião própria?"
Aos 8 anos:
Nós dizemos: "Sua professora disse que você não presta atenção
às aulas. Como você vai aprender alguma coisa na vida?"
Nós pensamos: "Se meu filho não for nada na vida, vou me sentir
um fracasso."
A criança pensa: "Não estou interessado no que a professora está
dizendo, mas acho que é ela quem sabe. As coisas que me interessam não devem ser
importantes."
Vinte anos depois, nós dizemos: "Você já está com 28 anos e ainda
não sabe o quê quer fazer da vida? Você não se interessa por nada?"
Aos 10 anos:
Nós dizemos: "Quebrou mais um prato? Ah, não faz mal, eu mesma
lavo."
Nós pensamos: "Eu sei que eu deveria ter mais paciência, mas pelo
menos assim os pratos ficam limpos"
A criança pensa: "Puxa, como sou desastrada. É melhor eu nunca
mais tentar ajudar."
Vinte anos depois, nós dizemos: "Você quer o emprego mas não vai
nem se candidatar? Você deveria ter mais fé em si mesma!"
Aos 12 anos:
Nós dizemos: "Saia e vá brincar com seus amigos - você vai se divertir
mais com eles do que passando o dia zanzando dentro de casa."
Nós pensamos: "Eu sei que eu deveria passar mais tempo com você,
mas tenho tanto o que fazer. Ainda bem que há tantas crianças aqui por perto."
A criança pensa: "Gostaria de fazer alguma coisa com mamãe e papai,
mas eles estão sempre muito ocupados. Acho que meus amigos gostam mais de mim do
que eles."
Vinte anos depois, nós dizemos: "Você nunca liga para nós e não
vem nos visitar. Você não se importa com nossos sentimentos?"
Aos 14 anos:
Nós dizemos: "Por favor saia da sala, querido. Seu pai e eu temos
que conversar uma coisa em particular. "
Nós pensamos: "Temos alguns segredos que preferimos que você não
saiba."
A criança pensa: "Eu realmente não faço parte dessa família"
Vinte anos depois, nós dizemos: "Você está preso? Por quê não nos
disse que estava tendo problemas? Você não sabe que não existem segredos dentro
de uma família? Nós nos esforçamos tanto. Onde será que nós erramos? "
(por Jan Hunt, Psicóloga diretora do "The Natural
Child Project")